Queria muito visitar as vinícolas, ir a Bento Gonçalves, mas não consegui mais hotel para permanecer na cidade e hoje teria que deixar o meu, sem falar no Tom, não posso furar com ele pela segunda vez. Então, aproveitei as últimas horas que me restavam na cidade para andar sem destino pelas ruas, comprar umas lembranças e partir.
Chegando a Porto Alegre me instalei no hotel, ainda havia algumas horas antes do horário do encontro marcado com o Tom, poderia descansar um pouco. Como seria ele? Estava ansiosa, espero que corra tudo bem, que me simpatize com ele, pelo menos gostava muito de nossas conversas pela rede... é vai ser uma experiência interessante, conhecer um amigo virtual. Sei que isso é muito comum nos dias de hoje, mas nunca pensei que eu fosse conhecer alguém deste modo, menos ainda que fosse viajar para fazer isso. Se gostar dele vai ser uma pena que meu voo parta daqui a dois dias, terei de ir embora.
Acabei perdendo a noção do tempo, acho que cheguei a dormir um pouco, rolei bastante na cama, de um lado para o outro ansiosa pelo encontro e tensa com receio de não ouvir o telefonema que Tom ficou de me dar para combinarmos o horário para o tão adiado encontro. Não ouvi o telefone, tampouco havia ligações perdidas ou mensagens deixadas, me assustei com o horário, era tarde. Liguei para ele, talvez eu tivesse entendido errado e ele tivesse pensando que eu ligaria, mas ninguém atendia, enviei uma mensagem dizendo que já estava na cidade pedindo que me retornasse e saí para jantar sozinha.
Até a hora que fui me deitar o Tom não havia feito nenhum contato, muito estranho, ele sumiu de novo. No dia seguinte acordei sem pressa e fui aproveitar o café do hotel, não quis telefonar tão cedo para meu amigo virtual desaparecido. Fiquei pronta para sair a qualquer momento, tentei um novo contato e nada. Resolvi não esperar mais, peguei algumas informações turísticas na portaria e fui passear.
Como não havia programado nada, resolvi pegar o ônibus de turismo que passava pelo centro histórico e dar uma volta completa, aguardar o telefonema e descer onde mais me agradasse. O telefone não tocou, isso me deixou um pouco de mau humor, um pouco decepcionada e bastante desconfiada, mas fui aos poucos me interagindo com a cidade, até então desconhecida, e deixando sua energia e personalidade penetrarem no meu espírito. Desci no centro histórico para explorá-lo, normalmente é por onde costumo começar a conhecer uma cidade.
O primeiro ponto de minha expedição foi a Igreja Nossa Senhora das Dores, sua construção vem de uma época em que o tempo passava mais devagar, sem a pressa com que levamos a vida nos dias de hoje, talvez essa seja a explicação para sua construção ter se iniciado em 1807 e demorado 97 anos para ser concluída. Era outro ritmo que ditava o curso da vida, bem diferente do nosso tempo em que arranha-céus surgem na paisagem do dia para a noite. Sua arquitetura foi, durante todo período de sua construção, fundindo-se com os estilos arquitetônicos dos anos que perpassaram sua edificação, misturando o estilo alemão com o barroco português numa bricolagem da evolução de diferentes tendências arquitetônicas introduzidas na cidade.
Resolvi, então, fazer mais uma tentativa de falar com o Tom. Estava na Praça da Alfandega, povoada por suas paineiras, ipês e jacarandás, tentei algumas vezes, já ia desistindo para continuar com meu passeio quando uma voz do outro lado respondeu, era uma mulher. Achei que havia ocorrido algum erro na ligação, então perguntei se aquele telefone era do Tom, ouvia outras vozes e gargalhadas animadas do outro lado, a mulher respondeu que sim, quem falava era uma amiga dele e meio sem saber o que dizer, no improviso, justificou que ele havia esquecido o telefone com ela. Do outro lado da linha, ouvi uma voz de homem dizendo para ela me falar que o Tom não ia me ligar de volta, ela então repetiu o que já havia escutado. Só consegui responder que já sabia e desliguei, estava atordoada e perplexa, tinha certeza de que era ele.
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