Finalmente consegui falar com o Tom, estava um pouco sem graça por causa do meu furo com ele, então fiquei sem jeito de perguntar o que havia acontecido, achei melhor não questionar nada. Muito estranho o comportamento dele, havia marcado comigo e agiu como se nada tivesse acontecido, como se nada tivesse sido combinado, isso me deixou muito desconfiada. Como estava culpada por ter entrado no ônibus para Gramado fui logo enrolando a desculpa mal inventada, isso pode não ter dado espaço para ele se explicar, talvez esteja intrigada a toa.
Como minha hospedagem na cidade acabaria antes da data do meu voo para o Rio decidi ir até Porto Alegre e me encontrar com ele, portanto lhe disse que a viajem havia apenas sido adiada e combinamos um novo encontro. Passei quase todo o dia caminhando a esmo pela cidade, não cansava de olhar as vitrines das lojas e a arquitetura, vez ou outra entrava numa loja ou parava para comer chocolate. Depois de almoçar num dos muitos maravilhosos restaurantes da cidade caminhei até o Lago Negro onde passei a tarde e me meti a fazer uma coisa que não fazia desde a infância, andar de pedalinho.
Lá do meio do lago pude observar uma jovem mãe na margem de mãos dadas com sua pequena filha, deveria ter uns dois ou três anos, não mais que isso. A garotinha usava um vestidinho colorido, cabelos curtos enroladinhos, meio presos com um laço e um sorriso delicioso no rosto, as vezes dava para ouvir suas gargalhadas ao explorar o mundo. Me perdi tentando imaginar que eram de fora, a família devia ter vindo para ver o Natal Mágico e provavelmente a menininha iria acreditar em todas as histórias que ouvira sobre esta época do ano. Tentei imaginar se eu tivesse um bebê se poderia se parecer com aquela criança, em como seria bom em mostrar os patinhos do lago e ver seu rostinho de descoberta, ter seu abraço e suas pequenas mãos mexendo nos meus cabelos, talvez me idolatrando e me achando a mulher mais linda de todas, sua segurança, a sua mãe.
Normalmente não penso nessas coisas, pelo contrário, fico imaginando como seria atrapalhada minha vida se tivesse filhos, penso que eles não caberiam nela como é agora. Talvez pense assim porque não me casei, se isso tivesse acontecido talvez os planos fossem outros, talvez quisesse que a família crescesse. Porém, isso me parece um acontecimento tão distante de mim de tal modo que tenho certeza de que não serei mãe e contra mim ainda tenho o tempo. Não sei por que não consigo me ver cuidando de um filho, a não ser por alguns instantes como hoje, mas os filhos são para sempre, não são instantes, é um plano para a vida toda, dizem que compensa. Gostaria de descobrir isso, mas penso que o preço é alto e que não é um plano escrito para minha vida.
O que me conforta e me afasta desse tipo de pensamento é que não preciso decidir isso hoje e nem sozinha, como não tem ninguém para tomar esta decisão comigo fica relegado a uma espera de que um dia eu venha, quem sabe e se der tempo, me decidir. O que gostaria mesmo era que fosse uma escolha, porque muitas vezes não é e do modo como me relaciono com esta questão para mim provavelmente não será e não acontecerá. Se tenho alguma vontade de ter filhos não é para garantir minha descendência, para me perpetuar como muitos pensam, mas, simplesmente para não me privar de uma experiência que todos dizem ser tão intensa, inexplicável, só quem tem um serzinho saído de si para saber.
Não percebi o tempo passar ali naquele lago, ele parou para eu olhar para uma vida que não era a minha. Senti vontade de caminhar um pouco para ver se ele voltava a fluir na velocidade certa, mas a noite já vinha chegando indicando que tudo voltara ao normal e com grande expectativa fui assistir o Nativitaten e com toda certeza é o melhor espetáculo do Natal Luz. Foi assim que tive minha segunda experiência atemporal num mesmo dia diante de um lago, dessa vez no Lago Joaquina Rita Bier.
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