domingo, 16 de dezembro de 2012

Episódio 6: Tentando Viver uma Vida Diferente, Mas Possível

Estava em transe, girando em torno de mim mesma, fleches aleatórios de lembranças passavam pela minha cabeça e se fundiam aos meus rodopios, senti os flocos de neve cair no meu rosto, então abri os olhos. Queria que aquela sensação permanecesse impregnada em mim por mais tempo, uma mistura de adoração pela vida, uma felicidade infantil por me sentir viva e um sentimento de que nada faria com que voltasse a ficar triste de novo.
Sabia que essa euforia seria fugaz como a espuma que caía do céu, esguichada por uma máquina para parecer neve, uma fantasia que se desmanchava no ar e eu fui voltando a mim. Havia acabado de assistir o Grande Desfile de Natal, estou me sentindo uma boba por pensar que uma estória criada para ser contada para crianças mexe comigo deste modo, não só comigo, mas vi tantos adultos emotivos a minha volta, num transe coletivo. Mas penso, também, que só quem não consegue se lembrar da criança que um dia foi não se emociona. É um mundo de faz de conta, que sabemos não existir, estimulado pelo nosso modelo econômico para girar o capital, mas aqui é tão real que fadas aladas brilhantes flutuam como a Sininho, dos livros que li na infância, desfilando diante de nossos olhos, Soldadinhos de Chumbo marcham enfileirados em perfeita sincronia, bonecos de neve fantasiados de Natal giram sorridentes e é até possível visitar a casa de Noel.
Talvez não seja crime usar o Natal de Gramado e nos deixar enganar pela imaginação, pelo menos uma vez na vida, esquecermos o quão dura ela é e de nossos problemas. Fugir do que somos e sermos diferentes, com emoções fluidas, infantis sim, mas simples como deveria ser a vida. Não só o espírito natalino aqui nos remete a devaneios, é a cidade toda, o charme das construções, as lojas de chocolate enfileiradas na avenida principal, os restaurantes deliciosos, o vinho e o clima carregado por uma felicidade simplória.
Nessa primeira noite, do que talvez seja minha nova vida, fui dormir em paz, impregnada por todas essas sensações que experimentei. Acordei disposta a explorar cada cantinho desse lugar, cada vão escuro das minhas emoções e deixar me levar sem vergonha de me sentir tola por me permitir agir como se fosse uma criança.
Na manhã seguinte um belo café da manhã colonial me esperava, enchia não só o estômago, mas saciava a alma parecendo um carinho de avó. Tornei a ligar para o Tom, começava a ficar preocupada, ele não atendia. Tentei não pensar nisso e fui passar o dia em Canela.
Azul, muitas flores azuis, aqui é a terra das hortênsias, para todos os lados onde se olha lá estão elas, principalmente quando se vai ao teleférico com suas cadeirinhas voadoras flutuando sobre um caminho das tais flores azuis e do outro lado do vale a Cascata do Caracol. Por fim uma passada pela Catedral de Pedra e cheguei de volta a Gramado para ver o acendimento das luzes da grande árvore localizada no ponto central da cidade. É um frisson, quando das trevas das ruas escuras, tudo se ilumina num espetáculo de luzes coloridas e mais uma noite de fantasias estava começando, afinal o espírito natalino tomou conta da cidade.

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