Nem sei em qual velocidade o tempo vem se movendo, vivo como se estivesse fora do meu corpo, assistindo minha vida como expectadora, impassível, neste momento sou um fantoche. Sei para onde vou, o que devo fazer, consigo dar minhas aulas, comer, conversar, mas é como se estivesse vazia, como se meus sentimentos tivessem se esvaído. Tento sentir algo, tristeza, vontade, sabor, nada acontece, não sei o que eu quero, simplesmente vou seguindo meu curso. Se eu parasse e pensasse: “o que mais gostaria de fazer agora, se pudesse largar tudo e fazer uma coisa que quisesse muito, independentemente do que fosse, o que eu faria”?
Uma angústia de indecisão se abateria sobre mim, eu não sei o que quero, para onde estou indo e onde quero chegar. Simplesmente é impossível tomar qualquer decisão neste estado melancólico em que me encontro, então sigo fazendo o que devo fazer e cumprindo minhas obrigações da melhor forma possível, até que esse nada que se abateu sobre mim passe e tudo que quero agora e é voltar a sentir.
Sozinha em casa tento colocar a cabeça no lugar, sei que preciso fazer algo por mim, sei que este momento pelo qual passo é um período de mudanças, não dá mais para viver como sempre vivi. Essa mudança que está em curso não me levará onde quero ir por si, é preciso que eu mude, mas para isso tenho que decidir o que quero para, então, encontrar uma força interna e poder colocar em curso a minha nova vida, isso só será possível com um esforço imenso. Tudo gira em torno de mim, de minha capacidade de me transformar, de me recriar, de ser perseverante, uma luta diária contra o que sou agora, para me transfigurar numa nova pessoa, a que quero ser, a que preciso ser, desesperadamente diferente do que sou hoje. Preciso de uma nova vida. É muito difícil!
Por mais no fundo do poço que possamos parecer estar, nada é tão escuro e tão fundo que não possa se iluminar com um dia de sol do Rio de Janeiro. Quando vi aquela quarta-feira perfeita de sol, larguei tudo, procurei o biquíni na gaveta e fui, como sob efeito hipnótico, de óculo, chapéu, Havaianas e maquiagem, para a praia de Ipanema. Minhas energias começaram a voltar e trouxe consigo meus sentimentos de volta, agora já era capaz de tomar algumas decisões.
Deitada à beira mar, sentindo o calor do sol que me bronzeava, o barulho das ondas espumando bem perto e os ambulantes anunciando seus produtos com vozes distantes, abafadas pela algazarra feita pelos meus pensamentos. Então, me dei conta de que sei o quero, sei o que fazer de minha vida, disso não tenho dúvidas, a verdadeira questão é se tenho coragem para tanto. Deixar tudo que sempre fui não é fácil!
Sei que nada pode acontecer, então continuaria vivendo, até bem demais, como sempre vivi, afinal, meu desejo é uma ousadia e tanto! Mas sei que este é um momento decisivo, se não fizer com minha vida o que quero depois pode ser tarde demais, o tempo é muito cruel e antes que passe para mim, penso que é hora de viver mais intensamente. Ainda me permito um tempo para pensar e amadurecer a ideia, preciso encerrar o semestre e arcar com meus compromissos assumidos. Porém, tenho uma tarefa para minha nova vida, que surge sob este sol de Ipanema, aproveitar as festas de fim de ano e as férias que se anunciam.
* Significa rolar, é nome de um passo de ballet. São pequenos tours, em geral feitos em séries, em que o bailarino executa pequenas voltas, transferindo o peso do corpo de uma perna para outra.
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